Governo quer mais autores brasileiros traduzidos para o inglês

Rodrigo Pinto

Da BBC Brasil em Londres

Biblioteca Nacional terá R$ 7,8 milhões para tradução de livros brasileiros, informa Galeno Amorim

A Biblioteca Nacional, oitava do mundo em acervo, será neste ano uma das mais atuantes instituições públicas do Brasil a lançar mão de políticas tradicionalmente associadas ao soft power. Além de promover a tradução de obras de autores brasileiros para inglês e espanhol, está iniciando um programa para criar bibliotecas nas fronteiras do país com seus vizinhos na América do Sul.

Para o presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Galeno Amorim, a literatura é um meio “eficaz” de proporcionar um mergulho na cultura de um povo. A instituição acaba de criar uma área internacional para ampliar a ação no exterior, o Centro Internacional do Livro. Por trás da iniciativa, porém, está a estratégia de atrair investimentos e compradores para o mercado brasileiro de livros.

O Brasil é o 11º mercado de livros do mundo, com perspectiva de crescimento, segundo o presidente da FBN, já que novas parcelas da população começam a ter mais acesso a educação e cultura. Estima-se que o país tenha cerca de 100 milhões de leitores declarados, embora 80% afirmem não ler regularmente, segundo Amorim.

“A literatura brasileira circulou melhor no passado. Queremos retomar isso”, diz ele, que anunciou recentemente um programa de R$ 7,8 milhões para estimular a tradução de livros brasileiros. “Há uma percepção generalizada dentro e fora do governo de que chegou a hora. Isso é bom para o Brasil, leva produtos e serviços e amplia as trocas acadêmicas”.

Em em abril próximo, o Brasil será o homenageado da 25º Feira Internacional do Livro de Bogotá. Em 2013, é a vez de uma homenagem na Feira do Livro de Frankfurt, a mais importante do mundo. Em 2014, será homenageado na Itália, na Feira do Livro Infantil de Bolonha, a maior do gênero no mundo. Há negociações em curso com outros países, como a França, adianta Galeno. A estratégia é atrair editores dos países desenvolvidos. E, por isso, a participação em feiras internacionais é essencial. “É o que dá a visibilidade inicial aos nossos títulos.”

Bibliotecas de fronteira

No fim de 2011, a gigante inglesa Penguin Book realizou um grande negócio no Brasil, ao comprar a Companhia das Letras. Neste ano, uma comitiva de editores ingleses irá ao Brasil pela segunda vez, capitaneada pela Publishers Association (PA) – a primeira visita foi em 2011. Por isso, a FBN vai promover com editoras brasileiras encontros preparatórios na London Book Fair, entre 16 e 18 de abril.

“No passado, depois da vinda de espanhóis e portugueses, agora parece haver uma onda de investimentos inglesa. Isso é bom, porque as primeiras editoras estrangeiras que vieram trouxeram títulos e, em seguida, começaram a buscar autores brasileiros. Então podemos imaginar que o mesmo acontecerá com as inglesas”, diz o presidente da FBN.

Amorim afirma haver no setor uma tendência à internacionalização de marcas, movimento que ele promete acompanhar atentamente “para evitar que as editoras brasileiras percam competitividade”.

A FBN também tem uma frente regional, voltada à América do Sul: abrir bibliotecas de fronteira,s comacervo bibliográfico bilíngue, mobiliário e equipamentos de informática nos municípios brasileiros que ainda não possuem uma instituição do gênero, especialmente nas áreas fronteiriças.

O projeto identificou cidades gêmeas que poderiam receber essas bibliotecas de fronteira, tais como Tabatinga (AM) – Letícia (Colômbia); Ponta Porá (MS) – Pedro Juan Caballero (Paraguai); Dionísio Cerqueira (SC) – Barracão (PR) – Bernardo de Irigoyen (Argentina); Uruguaiana (RS) – Paso de Los Libres (Argentina); Sant’Ana do Livramento (RS) – Rivera (Uruguai). “Em relação aos países lusófonos, em julho lançaremos edital para apoiar a ida de editores (para rodadas de negócios)”, diz Amorim.

A FBN também vai iniciar ainda neste ano o que Galeno chama de Colégio de Tradutores. A instituição vai dar bolsas para tradutores estrangeiros que serão alocados em cidades históricas, de acordo com o interesse de suas pesquisas, para se aprimorarem e tomarem contato com a cultura local. Já há negociações com França e Alemanha para parecerias. “E, na Feira Literária Internacional de Paraty, a Flip, vamos lançar os editais para dar apoio financeiro à ida de autores brasileiros para divulgarem seus livros no exterior”, afirma Amorim.

A Biblioteca também lançou revistas com amostras de novos trabalhos de autores brasileiros em inglês e espanhol. “Por razões táticas, podemos fazer edições em outros idiomas”, diz o presidente da FNB.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/04/120404_brazilian_softpower03_rp.shtml

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