Triplicam títulos no país, mas preços de livro digital custam a cair
Serviço precário de conexão com internet fora dos grandes centros impede venda digital em maior volume, avalia Câmara Brasileira do Livro
Fica difícil responder se no país o livro digital é caro porque ainda não é popular ou se ainda não é popular porque é caro. A comparação entre o mercado brasileiro e o americano mais uma vez ajuda a achar a resposta. Um dos entraves, aponta Ednei Procópio, da Câmara Brasileira do Livro, é a conexão com a internet: fora dos grandes centros urbanos, o serviço ainda é precário, o que impede venda digital em maior volume.
Outro fator é o número de títulos publicados. Dois anos atrás, quando o Brasil ainda engatinhava no mercado de e-books, com apenas 5 mil obras publicadas em português, os Estados Unidos já ultrapassavam a marca de 1 milhão na versão digital. Em abril de 2011, menos de quatro anos depois do lançamento do seu próprio leitor digital, a Amazon anunciou que já vendia mais livros na versão eletrônica do que em papel.
No Brasil, dos 300 mil títulos impressos disponíveis atualmente, apenas 5% tem uma versão digital. Mas o cenário está mudando. A oferta de livros em português triplicou em menos de dois anos, atingindo a marca de 16 mil obras em 2012. Dos 10 títulos em papel mais vendidos no Brasil, oito já estão disponíveis na versão digital.
Entretanto, boa conexão de internet e grande quantidade de títulos oferecidos não são os únicos motivos para fazer do livro digital um sucesso de vendas. Também em 2011, quando a Amazon anunciou que na Grã-Bretanha a venda de livros digitais havia superado a venda de impressos, a obra mais vendida custava pouco mais de R$ 1, enquanto o segundo colocado saía por pouco mais de R$ 3. Os britânicos apostaram em reduzir o preço para ampliar o volume vendido. Por aqui, a opção foi diferente.
Caso o preço dos e-books no Brasil fosse menor, na faixa de R$ 6 a R$ 7, mesmo Anderson Guerreiro, 20 anos, entusiasta dos livros impressos, cogitaria trocar a leitura em páginas de papel pela telas dos e-readers.
– A diferença de preço teria de ser acima de 50% – calcula.
Mesmo trabalhando cercado de computadores, em um centro de processamento de dados, Guerreiro não abre mão de viver rodeado de livros de papel.
– Só se o livro digital ficar bem mais barato vou migrar para o e-book – enfatiza.
Acaba nas pequenas editoras o papel de tentar mudar esse panorama. É o caso da KBR, com sede no Rio de Janeiro, que colocou todos os livros digitais do seu catalogo à venda por R$ 1,99. O preço é promocional, mas o teto de cobrança por uma obra na versão digital será R$ 7,99, garante Noga Sklar, dona da editora. A estratégia garantiu que 20 livros da KBR estivessem entre os cem títulos mais vendidos pela Amazon nas três primeiras semanas de venda.
Preços à parte, uma coisa é certa: quem se sente desvalorizado é o leitor brasileiro.